26.4.12

Agenor

Numa tarde de fim de semana, lá no Recanto das Emas, cidade do Distrito Federal – o filho mais novo de Agenor, um menino duns quatro anos de idade, entrou correndo pela sala de casa chamando pelo pai:
- Papai! Tá com cheiro de queimado!
Manso, Agenor não deu nenhuma importância, mas o menino parecia estar falando sério e tanto insistiu que acabou convencendo o pai a desgrudar os olhos da televisão, se levantar do sofá e ir até a cozinha.
- Uaí, não é que tem um fumaceiro aqui!
O fogo vinha do lote dos fundos. A parede da cozinha ardia e Agenor sabia que ali atrás morava um vizinho deficiente físico que costumava sair às tardes deixando sozinhos e trancados os filhos pequenos.
Rapidamente pulou o muro e avançou no meio daquilo que restou de um barraco de madeira em chamas para sair de lá com os três meninos vivos.
No fim da tarde o dono da casa chegou e, ao ver toda aquela cena de fumaça e vizinhança espalhada pela rua, desmaiou. Quando recobrou os sentidos logo lhe disseram que seus filhos estavam vivos.
- Graças a Deus!
Ninguém soube dizer se foi uma panela esquecida no fogo ou problema de parte elétrica, porque tudo o que havia na casa tinha se consumido, mas o fato é que milagrosamente Agenor conseguiu livrar aquelas crianças da morte.
Agenor tem função de estivador lá no meu trabalho e nas horas de folga faz serviços de serralheiro, marceneiro e pedreiro. Então, diante das circunstâncias de seu vizinho – um misto de alívio, desespero e gratidão – decidiu ajudá-lo e, como se já não tivesse feito o bastante, conseguiu algumas doações de materiais de construção: tijolos, cimento, areia, telhas e perfis de aço (ele mesmo preferiu usar metal na estrutura do telhado ao invés de madeira) e, sozinho, levantou uma casa de alvenaria, não sem antes desenhar a planta e levá-la à administração regional para aprovação.
Agenor fez um alicerce reforçado, capaz de suportar uma construção de dois pavimentos, e em seguida, uma casa de três quartos adaptada para deficiente físico, segundo ele.
- Fiz um banheiro grande, do tamanho dum quarto, com corrimão e tudo. Assentei bem o sanitário com espaço para movimentar a cadeira de rodas e a porta ficou com uns 90 centímetros.
O vizinho ficou completamente agradecido e satisfeito, mas Agenor ainda não tinha terminado sua obra. Seu avô, já falecido, também era cadeirante e como havia deixado guardadas três cadeiras de rodas em bom estado, uma delas, a mais nova, Agenor deu para o vizinho.
Por fim, Agenor conseguiu com um parente que é feirante uma doação mensal de quarenta caixas de laranja, pois seu vizinho era aposentado e poderia trabalhar como vendedor ambulante e assim repor os pertences da casa.
Outro dia o pneu da cadeira de rodas do vizinho de Agenor furou. Manso, Agenor comprou uma câmara de ar nova e consertou a cadeira.