6.8.12

Lá se vai o Homem do Blues

Assisti, quando garoto, a uma entrevista do Celso Blues Boy onde ele disse que a guitarra não era apenas um pedaço de madeira, metal e cordas, mas um instrumento a partir do qual pode construir sua vida.
Eu, que naquela época arranhava minha guitarrinha, sonhei um dia ser como ele. Claro que isso nunca aconteceu. Por essas e por outras que sempre admirei o velho heroi do Blues. Ele cantava coisas diferentes, estórias de amor regadas a bebidas e paixões, tudo em meio a solos viscerais e pentatônicas. Seguia seu caminho solitário mas honesto, na estrada do rock n' roll brazuca.
Hoje soube da sua morte. Sabia já há algum tempo que sua saúde era frágil. Sentia dificuldades de manter-se em pé no palco e, mesmo assim, empunhava sua stratocaster com dignidade, sem revelar essa dor...
Prefiro pensar que o Blues Boy tomou um trem em alguma estação e foi levar seu show para outra cidade. Gente como ele simplesmente não morre assim, mas dá um tempo em qualquer canto por aí.
As lágrimas são para quem fica com a lembrança de seu sorriso amarelo e debochado e da sua voz rouca e enfumaçada.
Espero que os céus o recebam com uma bela festa e que a sua guitarra já esteja afinada e plugada, pois os anjos, em coro, já estão cantando "aumenta que isso aí é rock n' roll"!





16.7.12

Time to play the Hammond Organ in Heaven

Eis o meu humilde preito a Jon Lord. Os sons mágicos de seu Hammond embalaram os dias da minha juventude e agora só posso dizer: Lá se vai mais um virtuose...
O Deep Purple foi a banda que produziu o mais alto volume de som na face da Terra e toda essa psicodelia se deve a esse grande maestro.
Pobre do Rock n' Roll e também pobre de nós, pois nossos ouvidos estão órfãos...
Hoje a minha reza vai ser: Lazy, you just stay in bed, lazy, you just stay in bed, you don't want no money, you don't want no bread.


30.5.12

Tributo à Legião Urbana

Zanzando pelos canais da TV me deparei com um show inesperado. Tributo à Legião Urbana, com Dado, Bonfá e banda e, no vocal, quem poderia imaginar, Wagner Moura. Fiquei de cara! Emocionante ver esse encontro de veteranos da geração à qual pertenço - a geração daquele refrigerante cor de café bem forte...
Rock n' Roll, baladas, músicas incidentais, uma volta ao passado num presente quase estéril da produção musical do pop nacional. O mais legal é ver essa rapaziada se divertindo fazendo o som, pogando e se jogando no chão à la Jim Morrison.
Costumo perguntar para os infantes quem são os poetas da sua geração e tenho ficado sem resposta... Vamos lá, gente! Coragem! Vocês só vão ter vinte anos só essa vez! A gente não. Como diria o selvagem RR, "temos todo o tempo do mundo".

13.5.12

Paraísos Artificiais

Enfim assisti ao filme 'Paraísos Artificiais'. Desde quando vi o seu teaser pela primeira vez até a leitura de algumas críticas, a maioria negativas, fiquei afim de ir ao cinema e, ao final, gostei muito do que vi.
Soube de pessoas que deixaram as salas dos cinemas, antes do fim do filme, completamente enojadas da sua estética. Outras classificaram-no como mais uma produção vazia do cinema brasileiro. 
Da minha parte, achei o filme extremamente bem feito. A linha do tempo e as interrelações  dos personagens, propostas pelo diretor, são altamente complexas, alternando entre as memórias do casal de protagonistas até o seu incidental reencontro, delicadamente não resolvido no final.
Creio que a temática do filme tenha sido a responsável por tanta rejeição do público, afinal, drogas sintéticas, jovens alienados e uma densa trilha sonora eletrônica que embala raves, não representam um contexto muito defensável, do ponto de vista moral. Entretanto é justamente aí que o diretor consegue mostrar-se criativo. Lidar com questões socialmente polêmicas, juridicamente reprováveis, ser sutil e ainda por cima não tomar partido, isto é, não fazer proselitismo, é uma tarefa que requer talento e o cineasta Marcos Prado tem-no de sobra.
Trata-se o enredo de icônica estória sobre a atual geração de jovens. De um lado, a falta de perspectiva, a impulsividade primitiva e delinquente, aliada à sexualidade experimentalista e inconsequente. De outro, a fragilidade e incompletude da família, incompetente no trato dos problemas existenciais de seus membros, em especial os jovens e a criança...
Ainda assim o filme consegue ser lírico, estabelecendo surpreendentes costuras, como a da cena final em que o irmão mais novo, órfão de pai exímio nadador, consegue emergir do mar após fugir da Polícia Federal. Esse folego juvenil, capaz de insuflar nossas esperanças de redenção, surge como um presente regalado no final da festa. Pena que teve gente que não aguentou esperar... 



9.5.12

A quadratura do círculo

Grande enigma de alquimistas, geômetras e pensadores de outrora, a quadratura do círculo continua sendo um desafio presente na atualidade.
A simbologia tradicional do quadrado associa-o ao mundo da matéria, enquanto o círculo representa o mundo da espiritualidade, da transcendência.
Mentes racionais chamadas a resolver o problema lutaram em vão sem conseguir encontrar-lhe a solução. 
Seria apenas uma questão lúdica? Duas peças que não se encaixam e logo a criança se desinteressa e passa a querer brincar de outra coisa?
A resposta começa a surgir justamente no ponto em que a racionalidade fenece. Quando não é capaz de oferecer uma justificativa por meio da lógica, o homem vê-se inclinado a enveredar pela trilha do sentimento, e, nessa via, depara-se com o maior e mais importante de todos - o amor.
Parece que o enigma foi enfim decifrado, mas será que o homem sabe o que é amor? Compreendê-o a ponto de usá-lo em todos os momentos de sua vida? Não receia que tudo isso seja uma grande tolice e torna a fiar-se novamente na razão?
Eis a grande dificuldade de se quadrar o círculo: amar.


4.5.12

Perdi meu cavalo branco

O meu nome não importa. Apenas te serve conhecer minha estória. Fui alcoólatra. Isso mesmo, fui e não sou mais. Afirmo estar curado pelo simples fato de não beber mais há mais de dez anos, apesar de trabalhar num bar como garção. Sinto-me como um velho amigo meu, cuja hemofilia jamais o afastou do ofício de vidraceiro.
Diariamente eu sirvo aos clientes cervejas e outras bebidas bem mais fortes, sem contudo me sentir tentado a dar um trago sequer. Tu podes não acreditar no que digo, mas meu relato é verdadeiro. 
Um dia, tive família. Mulher e filhos, porém a bebida me fez abandoná-los. Segui a vida ao lado de amigos bêbados, não sem ficar na espreita dos que deixei para trás por falta exclusivamente minha.
Sempre fui um homem trabalhador e amigo. Amei meus filhos e minha mulher e ainda os amo, contudo sei que nada posso exigir deles depois do sofrimento que lhes causei. Sei que é tarde para desfazer o passado, afinal as crianças crescem e se vão, adultas e maduras ou não, além do que a velhice não tarda para ninguém.
Dos meus filhos, somente o mais velho me visita de vez em quando. Seu coração é imensamente bom, pois jamais me tratou com ressentimentos, mesmo sendo eu merecedor de todas as queixas. Dos outros, só tenho breves notícias e muitas saudades.
Conhecedor da questão, posso dizer-te que a pessoa que bebe é uma vítima da própria ilusão e toda a sua vida passa a ser uma confusa escravidão. No meu caso, a minha ilusão foi tanta que acabou produzindo efeitos colaterais na própria doença e em meu benefício. Depois de ter andado por várias cidades, sempre na dependência da bebida e de quem a fornecesse, um dia ganhei de presente uma garrafa de uísque. De início, tomei o presente como uma espécie de troféu e guardei-o, não sem antes fazer comigo mesmo um bendito pacto: só abriria a importante garrafa no dia em que tivesse algo muito especial para comemorar. Todavia, essa ocasião marcante nunca chegou. A realidade da vida de um bebum não lhe reserva momentos assim e, inconscientemente, acabei me esquecendo totalmente onde enfim havia 'guardado' a tal garrafa. Procurei-a por toda a parte e por muito tempo, mas nada de encontrar a bebida dourada...
A partir daí, senti real desinteresse por qualquer tipo de bebida. Resolvi voltar para minha cidade e para minha casa. Hoje só trabalho e vou à igreja. Vivo modestamente com o que restou da minha saúde e da minha fé. Sei que não posso reclamar. A vida tem sido generosa comigo e a única coisa que espero é poder retribui-la de algum modo e o quanto antes.

26.4.12

Agenor

Numa tarde de fim de semana, lá no Recanto das Emas, cidade do Distrito Federal – o filho mais novo de Agenor, um menino duns quatro anos de idade, entrou correndo pela sala de casa chamando pelo pai:
- Papai! Tá com cheiro de queimado!
Manso, Agenor não deu nenhuma importância, mas o menino parecia estar falando sério e tanto insistiu que acabou convencendo o pai a desgrudar os olhos da televisão, se levantar do sofá e ir até a cozinha.
- Uaí, não é que tem um fumaceiro aqui!
O fogo vinha do lote dos fundos. A parede da cozinha ardia e Agenor sabia que ali atrás morava um vizinho deficiente físico que costumava sair às tardes deixando sozinhos e trancados os filhos pequenos.
Rapidamente pulou o muro e avançou no meio daquilo que restou de um barraco de madeira em chamas para sair de lá com os três meninos vivos.
No fim da tarde o dono da casa chegou e, ao ver toda aquela cena de fumaça e vizinhança espalhada pela rua, desmaiou. Quando recobrou os sentidos logo lhe disseram que seus filhos estavam vivos.
- Graças a Deus!
Ninguém soube dizer se foi uma panela esquecida no fogo ou problema de parte elétrica, porque tudo o que havia na casa tinha se consumido, mas o fato é que milagrosamente Agenor conseguiu livrar aquelas crianças da morte.
Agenor tem função de estivador lá no meu trabalho e nas horas de folga faz serviços de serralheiro, marceneiro e pedreiro. Então, diante das circunstâncias de seu vizinho – um misto de alívio, desespero e gratidão – decidiu ajudá-lo e, como se já não tivesse feito o bastante, conseguiu algumas doações de materiais de construção: tijolos, cimento, areia, telhas e perfis de aço (ele mesmo preferiu usar metal na estrutura do telhado ao invés de madeira) e, sozinho, levantou uma casa de alvenaria, não sem antes desenhar a planta e levá-la à administração regional para aprovação.
Agenor fez um alicerce reforçado, capaz de suportar uma construção de dois pavimentos, e em seguida, uma casa de três quartos adaptada para deficiente físico, segundo ele.
- Fiz um banheiro grande, do tamanho dum quarto, com corrimão e tudo. Assentei bem o sanitário com espaço para movimentar a cadeira de rodas e a porta ficou com uns 90 centímetros.
O vizinho ficou completamente agradecido e satisfeito, mas Agenor ainda não tinha terminado sua obra. Seu avô, já falecido, também era cadeirante e como havia deixado guardadas três cadeiras de rodas em bom estado, uma delas, a mais nova, Agenor deu para o vizinho.
Por fim, Agenor conseguiu com um parente que é feirante uma doação mensal de quarenta caixas de laranja, pois seu vizinho era aposentado e poderia trabalhar como vendedor ambulante e assim repor os pertences da casa.
Outro dia o pneu da cadeira de rodas do vizinho de Agenor furou. Manso, Agenor comprou uma câmara de ar nova e consertou a cadeira.

13.4.12

Um encontro inimaginável

Era o meu primeiro dia como garçon naquele restaurante. A noite prometia, pois haveria ali um inimaginável encontro entre seis grandes pensadores dos séculos XIX e XX, para tratar do assunto fenômeno religioso e o seu papel na sociedade ocidental.
O primeiro convidado a chegar foi Karl Marx. Logo em seguida Sigmund Freud. Entreolharam-se. Freud apertou bem os olhos para ver se não estava diante do totem. Por fim, reconheceu Marx pela barba e, embora fosse lugar comum pensar em Marx como devorador de criancinhas, Freud livrou-se das suas ilusões eliminando assim o tabu. Cumprimentaram-se e tomaram assento à mesa reservada. 
Émile Durkheim adentrou o recinto e procurou por Auguste Comte, mas este infelizmente não tinha sido convidado. Tudo bem, no restaurante havia mesmo uma bandeira onde se lia a frase  “Ordem e Progresso”. Então, antes de sentar-se ao lado dos colegas, observou o vazio lógico procurando em vão distinguir qual dentre os senhores era o sagrado e qual o profano. Era preciso estabelecer uma separção. Sem obter uma resposta cientificamente válida, folgou pois afinal de contas estava protagonizando um fato social de caráter religioso, ao qual, segundo ele mesmo, deveria submeter-se. 
O próximo a chegar foi Max Weber. Aparentava um certo desconforto, talvez por influência de Calvino, que não gostava de festas. Contudo, a dúvida de sempre era visível no seu semblante puritano: O que devemos fazer e como devemos viver?
Leonardo Boff, primeiro brasileiro a ser convidado para o encontro, apareceu causando espanto. Ora, se Karl Max foi o primeiro a chegar, como ele poderia estar novamente ali na porta? Calma. Se lhes confundiram as barbas...
Boff, espirituoso, autorizou os demais a chamarem-no de águia e, por delicadeza, não sugeriu nenhum apelido para Marx...
Por último, mais um convidado brasileiro. Frei Betto. Agora sim a mesa estava completa e eu estava lá, pronto para servi-los.
Marx me fez um sinal. Aproximei-me. 
- Pois não? O que o senhor deseja?
Ele me pediu para mudar de lugar na mesa. Disse que a proximidade com Durkheim e Weber falseava a sua consciência, em outras palavras, era alienante, e que a postura submissa de ambos ante o fenômeno religioso o incomodava, pois este não passava de um disfarce para encobrir as relações de dominação da classe proprietária dos fatores de produção. Confesso que nada entendi. Depois ele pediu uma cerveja – a mais barata da casa, aquela sem rótulo, autêntica bebida de operário... Sabe como é, sem fetiches... O cara é radical!
Em seguida Freud fez uso da palavra:
- Caros colegas, para início de conversa permitam-me dizer que isso aí que vocês chamam de religião não passa de ilusão: uma neurose obsessiva universal que remonta à horda primitiva. E mais, dentro do Complexo de Édipo, Deus não é mais do que um pai glorificado, cujos filhos jamais superaram o sentimento de culpa gerado pelo parricídio!
Imediatamente Durkheim interveio:
- Data vênia vossa senhoria ser a maior autoridade do mundo em psicanálise, é preciso reconhecer a importância da religião como fator de coesão da sociedade, a verdadeira fonte do sagrado.
- Está bem, caro Durkheim, reconheço a importância da religião para a humanidade, mas por favor, não vá se suicidar por isso não! Vamos ficar apenas com as formas elementares da vida religiosa, ok?
Depois da resposta, lembrou-se de fazer o seu pedido: 
- Ah! Garçon! Traga-me uma vodka...
Max Weber sentiu a deixa...
- Nobres colegas, é mister fazer uma colocação quanto ao fenômeno religioso no ocidente. Em primeiro lugar não observo nas religiões cristãs uma gênese a partir das perspectivas de categorias sociais, como defendeu o professor Karl Marx, nem tampouco a partir da excessiva importância conferida à coletividade, como frisou o Dr. Émile Durkheim. Eu o vejo como um produto histórico, desenvolvido pelo próprio indivíduo, pois tanto a vida quanto a morte não têm sentido... Em síntese, a ciência nada pode afirmar acerca da religião, mas pode levar o indivíduo a melhores condições de vida neste mundo desencantado.
Marx indignou-se e Frei Betto, sempre polido, esperou a contestação do velho mestre nesta lide de conterrâneos. Disse Marx:
- Lá vem o senhor com esse papo de burguês para operário trabalhar além da jornada de 16 horas diárias... Eu já não te disse que a religião é o ópio do povo? Que é ideologia capitalista?!?!
Rapidamente pensou Freud:
- Ópio? Onde?
Marx continou...
- Não vê o senhor que está restringindo o indivíduo ao capitalista única e exclusivamente e deixando de fora o miserável operário? Com toda essa desigualdade, essa competitividade, é claro que a vida não tem sentido! Abaixo a mais valia! Garçons, psicanalistas, sociólogos, teólogos e escritores de todos os tempos uni-vos! É chegada a hora de acabarmos de vez com todas essas formas de alienação e ingressarmos definitivamente na idade da razão...
Pediu mais uma cerveja. Aquela... Weber quis apenas um copo d’água e, considerando de acordo com o espírito do capitalismo que eu não era um dos escolhidos, disse-me para não demorar. Rigidez...
Até então Leonardo Boff, que degustava um vinho tinto e limitava-se apenas a escutar os demais, resolveu falar: 
- Irmãos: Como todos vocês sabem eu professo a fé cristã. Sendo assim, pacientemente  escutei os vossos argumentos. Meditei bastante acerca das colocações do ilustre sociólogo Max Weber e, no afã de afastar-lhe o crônico pessimismo, sugiro que o mesmo passe uma temporada conhecendo a América Latina e seus problemas. Tenho a convicção de que a opressão que assola os nossos povos irmãos, absolutamente desfavorecidos, irá proporcionar-lhe uma reflexão capaz de levá-lo à revisão da sua opção pelos ricos.
E continuou o nosso teólogo:
- Muito embora os ilustres Karl Marx e Sigmund Freud se apresentem como ateus, eu não poderia deixar aqui de referendar algumas de suas principais posições. Sob o ponto de vista da Teologia da Libertação, as estruturas de dependência e de dominação secularizadas pelos ricos vão de encontro ao ideário de liberdade ensinado por Jesus Cristo. Os processos de alienção/ilusão que conduzem os indivíduos e a sociedade à superficialidade do consumo e do entretenimento correspondem inversamente à tomada de consciência da realidade que nos cerca. Isto sim, meus caros, é sagrado. É o instinto divino, a voz interior que leva o indivíduo ao encontro consigo mesmo, ou, como diria Freud, com o Self.
Na mesa, todos permaneciam perplexos e em silêncio. Eu continuava não entendendo nada, mas fiquei emocionado ao ver aqueles anciãos discutindo questões cujo objeto principal era o próprio ser-humano. Frei Betto me pediu para trazer-lhe o mesmo vinho tinto que o Leonardo Boff estava tomando. Não hesitei... 
Cordialmente Frei Betto quebrou o silêncio:
- Fica difícil acrescentar qualquer coisa depois desse puxão de orelhas do Leonardo Boff, mas, humildemente, quero levantar outra questão dentro do que se está chamando aqui de fenômeno religioso na sociedade ocidental.
Karl Marx sorriu discretamente. Pensou: Claro que o Frei Betto estava se referindo à pós-moderna religião do consumo...
- Não é do tempo da maioria dos senhores, mas já observaram a semelhaça entre um shopping-center e uma catedral? Notaram como lá as pessoas se vestem bem? Seus trajes se parecem ou não com os dominicais? E quanto à miséria? Por acaso lá se vêem os mendigos?
Max Weber tentou fazer um aparte mas faltou-lhe o que dizer. Então Frei Betto continou:
- Nesta “nova religião”, egoísta, há uma inversão de papéis e de valores. O indivíduo é que é propriedade do objeto e não o contrário, como deveria ser, segundo a tradição. Não é a fé algo subjetivo? Como é possível um objeto de consumo, que agora é o possuidor do indivíduo, vir a acreditar num ser-humano carente de auto-estima?
Dirigiu-se para Max Weber e disse:
- É exatamente por isso que a vida não tem sentido.
Embargado, Max Weber pediu mais um copo d’água e Durkheim, percebendo que o clima estava ficando meio difícil para o alemão, sugeriu a este ir conhecer o shopping-center mais próximo, só para relaxar. Marx disse que não iria de jeito nenhum e Freud perguntou se no shopping haviam tantas pessoas neuróticas quanto naquela mesa.
Foram embora. Numa clara manifestação de apreço à classe operária, pagaram a conta em Euro, mas me deixaram com a mesma incerteza de antes. Seriam estas questões difíceis demais para a compreensão de um simples garçon ou bastaria apenas a prática do amor ensinado pelo singelo Jesus Cristo para encontrar um sentido para a vida?





11.4.12

O nascituro no Direito Romano



Desde o Direito Romano justinianeu[1], o nascituro tem sido objeto de codificação e proteção. Devido à sua maior importância, o Direito das Pessoas[2] foi o primeiro a ser tratado no Digesto[3].
Gaio, jurisconsulto romano, já havia dividido o Direito em pessoas, coisas e ações, demonstrando o espírito prático do seu povo. Assim, estabeleceu-se que somente seria pessoa o produto do parto de ser humano, nascido com vida:
D. 50.16.129. (Paulus libro I ad legem Iulian et Papiam). Qui “mortuius” nascuntur, neque nati, neque procreati videntur, quia nunquam liberi appelari potuerunt (Os que nascem mortos não se consideram nascidos nem procriados, pois nunca puderam chamar-se filhos).

D. 35.2.9.1. Papiniano. ...partus nodum editus homo non recte fuisse dicitur (não se diz nascido um homem sem que o parto tenha havido).

D. 25.4.1.1. Ulpiano. ...partus enim antequam edatur, mulieris portio est vel viscerum. (antes de ser dada à luz, a criança é uma porção da mulher ou de suas vísceras).

À primeira vista pode-se ter a impressão de que os romanos negavam proteção ao nascituro. Entretanto, Poletti[4] pondera que as referidas compilações visavam à “proteger a mulher diante da pretensão do ex-marido de colocá-la sob guarda, tendo em vista estar grávida do filho dele”, caso contrário a gestante poderia sujeitar-se a tutela perpétua, na condição de alieni iuris[5].
Corroboram esse entendimento diversos outros fragmentos do Digesto, os quais conferem proteção ao filho ainda não nascido diante de interesses contrários aos seus:
D. 1.5.7. Paulo. ...qui in utero est, perinde ac si in rebus humanis esset, custoditur, quotiens de commodis ipsius queritur, quanquam alii, antequam nascutur, nequaquam prosit (aquele que está no útero é protegido de maneira igual como se estivesse dentre as coisas humanas, todas as vezes que se questionar de suas próprias vantagens, de maneira que, antes de nascer, de forma alguma a outro aproveite).

D. 1.5.26. Juliano. Qui in utero sunt, in toto paene iure civili intelliguntur in rerum natura esse. (Aqueles que estão no útero, em quase todo o direito civil, são compreendidos como se já estivessem nascidos).

D. 37.9.1.15. Ulpiano. (...não duvidamos que o pretor deva socorrer também ao que vai nascer, bem mais porque a sua causa deve ser mais favorecida do que aquela do menino; pois se favorece ao concebido para que venha à luz, enquanto ao menino para que seja reconhecido na família; porque o concebido tem que ser nutrido pois nascerá não somente para o pai, ao qual se diz pertencer, mas também para a república”).

Também conduz à mesma conclusão o preceito nasciturus pro iam nato habetur, quum de eius commodo agitur (o nascituro é considerado nato, quando estiverem em jogo suas vantagens).



[1] Compilação e codificação das leis e da Jurisprudência Romana, ordenadas no VII século da era vulgar, pelo Imperador do Oriente. (POLETTI, Ronaldo, Elementos de Direito Público e Privado, pg. 25).
[2] D. 1.5.1 (Gaius, Instituionum, libro I) Omne ius, quo utimur, vel ad personas pertinet, vel ad res, vel ad actiones. (Todo o direito que usamos é pertinente às pessoas, ou às coisas ou às ações). (POLETTI, Ronaldo, Elementos de Direito Público e Privado, pg. 73).
[3] Depois de haver editado o Codex Iustinianus (529 d.C.), reunião das leges, concebida por Justiniano desde a época de seu tio Justino (518-527), adaptando-as à realidade da sua época, o Imperador convocou os homens da maior competência para uma missão muito mais hercúlea, através da Constituição Deo Auctore, de 15 de dezembro de 530. A Constituição era dirigida a Triboniano, como quaestor sacri palatii, que havia se destacado nos trabalhos preparatórios do Código. Tratava-se de recolher, nos escritos dos juristas antigos providos do ius respondendi, os fragmentos necessários para levar a cabo um tratado completo daquela parte do direito ainda vigente que, por pertencer à época clássica, somente podia ser conhecido pela obra dos prudentes. Os fragmentos deveriam ser organizados. A compilação resultou no Digesta ou Pandectae, a parte mais importante do esforço justinianeu, uma vez que reunia a doutrina que haveria de influenciar todo o mundo futuro, na criação e aprimoramento do Direito. (...) Em 16 de dezembro de 533, o Digesto foi publicado, integrado por 50 livros, reunidos os 9.142 fragmentos, dos quais, aproximadamente, 1/3 são de autoria de Ulpiano, sendo que mais de 2/3 foram colhidos nos juristas da Lei de citações (o famoso tribunal dos mortos), sendo autores de 2.470 fragmentos os juristas Cervídio Cévola, Pompônio, Juliano, Marciano, Javoleno, Africano (Marcelo), mais 27 juristas escreveram os 535 fragmentos restantes. (POLETTI, Ronaldo, Elementos de Direito Público e Privado, pgs. 54/55).
[4] POLETTI, Ronaldo. Elementos de Direito Romano Público e Privado . 1. ed. Brasília: Livraria e Editora Jurídica, 1996, pg. 76.
[5] La locuzione latina ellittica alieni iuris veniva utilizzata tecnicamente dai giuristi romani in luogo della più completa alieni iuris subiectae per indicare le persone che erano soggette al potere di qualcuno. Contrapposto al concetto di alieni iuris vi era quello di sui iuris, che stava ad indicare, invece, coloro che non erano soggetti al potere di altri individui. Il giurista romano Gaio descrive la differenza tra le due espressioni antitetiche in questi termini: G.1.48 «Sequitur de iure personarum alia divisio. Nam quaedam personae sui iuris sunt, quaedam alieno iuri sunt subiectare» (Trad. Segue una ulteriore distinzione sulla condizione giuridica delle persone. Infatti, alcune persone sono sui iuris, altre sono soggette ad un potere giuridico altrui. Più in particolare si poteva divenire alieni iuris: o perché sottoposti alla potestas (patria nel caso dei figli o dominica nel caso si trattasse di schiavi); o perché sottoposti alla manus (è il caso delle mogli); ovvero perché sottoposti al mancipium (qualora il pater familias avesse ceduto una persona a lui sottoposta con l'atto della mancipatio). Le conseguenze giuridiche per gli alieni iuris erano particolarmente svantaggiose. Ad essi infatti non spettava alcun diritto nel campo del ius privatum. Disponível em: Acesso em: 12 mai. 2010.

5.4.12

"Maior é Deus"

Assim cantava Vicente Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha. Hoje é seu aniversário e, com certeza, muitos angoleiros estão em festa mundo afora, desde a Bahia. Tu ensinaste aquilo que aprendeste, para poder deixar deixar de ser o fraco, levantar a cabeça e ser gente. Não tem mais menino taludo prá fazê ocê panhá mais não!
"Maior é Deus, pequeno sou eu". Humilde, Mestre Pastinha viveu quase um século para transmitir a arte da Capoeira Angola. Quem já teve a oportunidade de assistir um bom jogo de angola concordará comigo: não há UFC, MMA, boxe, artes marciais orientais, etc que se compare em beleza, elegância, mandinga, filosofia, manifestação cultural e arte com a capoeira do saudoso angoleiro. Feliz aniversário, Mestre Pastinha. 

Obituário de hoje

Antes do almoço soube que Jim Marshall havia falecido. Imediatamente, chamei meu filho para ver a notícia na TV. Por quê? Simples, porque o amplificador de guitarra que o garoto usa para encher meus ouvidos com acordes e solos é também um Marshall. Qualquer cara que já se ligou em guitarras elétricas e rock n' roll sabe o que é um Marshall!
Várias bandas e artistas mundialmente consagrados já haviam confirmado a presença em um festival, neste ano, para homenagear Jim Marshall, entre eles o Iron Maiden e o The Cult. Agora que o 'pai da criança' se foi,  espero que o tal festival não fique apenas na promessa.
Depois do almoço, meu filho e eu fomos para a frente de uma certa agência de carros de luxo (costumamos frequentá-la exatamente como fazem os vira-latas diante de uma assadeira de frangos). Duas Porsches 911 roubavam a nossa atenção - a preta, com capô em fibra de carbono; e a prata, a perdição dos aficionados! Ao voltar para casa, mais uma notícia: 'Morre Ferdinand Alexander Porsche, criador do Porsche 911'. Assim é demais! Vou me esconder debaixo do colchão, mas, pelo sim pelo não, não vou me atrever a dizer qual é a marca do mesmo...


29.3.12

ULC - Ultimate Life Combat

O lutador é tratado como um semideus. As suas primeiras imagens são geradas já no vestiário do grande estádio. Ele se aquece, não sem esquecer da enorme plateia que o aguarda e tudo mais que está em jogo. Ao sinal, dirige-se ao octógono, acompanhado de seu séquito. Transparece autoconfiança, ergue seus braços abertos para o público, sobe no ringue e continua se aquecendo. Muitas fotos para publicidades são disparadas em meio a uma concentração já comprometida.
Com o seu oponente não é diferente. Este, pouco tempo depois, surge no palco repetindo basicamente o mesmo iter. Feitas as glamourosas apresentações, a luta inicia. São três assaltos e que vença o melhor.
É a partir desse instante que a luta se assemelha com a própria existência. O lutador agora só conta consigo. Procura seguir a estratégia traçada para o combate, afim de finalizar o oponente. Não é fácil. Aquela autoconfiança de antes vai sendo minada a cada violento golpe. O sangue espirra e escorre, a mente turva, o ar desaparece, as dores castigam, mas é preciso resistir para não cair.
Quando se ganha o combate, tudo é festa, mesmo sem poder enxergar a glória alcançada devido aos inchaços, mas, quando se perde, além das dores restam a frustração e o sentimento da derrota.
Após a ovação do vencedor seguem os comerciais e a chamada para a próxima luta.

28.3.12

Valeu, Millôr

Millôr Fernandes se foi. É, esta semana a ceifa cortou fundo no relicário das artes brasileiras. Mal o Chico Anysio ascendeu e agora o Millôr... Um menino que ao ser registrado como 'Milton' já começou a fazer troça com a nossa cara, pois a caligrafia do escrivão do cartório fez com que todo mundo entendesse que o rebento chamava-se Millôr!
Seu desenho tosco (viver não é desenhar sem borracha?) e seus haikais são a expressão de um sentimento nacional de contestação e indignação em face das iniquidades de todos os tempos em que viveu. Parabéns, Millôr! Nada menos que a eternidade para recebê-lo de braços abertos.

26.3.12

Negrete no baixo...

Não faz muito tempo, me lembrava do Negrete da Legião Urbana e pensava o quanto ele estava sumido. Para minha surpresa, aliás, total espanto, soube hoje que ele vive nas ruas do Rio de Janeiro, há anos!
Assisti a um vídeo e me comovi com a entrevista que ele, humildemente, deu à TV. O homem envelheceu só e esquecido na Cidade Maravilhosa. Comprou um baixo novo mas não consegue tocá-lo como há vinte anos. Também não tem mais banda. Disse que um dia teve mulher e filhos, mas não tem contato algum com eles. É muito sofrimento. O cara tem um radinho para escutar as FM's da vida. Volta e meia escuta os hits da Legião e, nessas horas, diz sentir-se feliz. Sobre o Renato Russo, Negrete é só elogios...
Companheiros do Rock Brasil dos anos 80 dizem que já tentaram ajudá-lo, sem sucesso, e o pai do Negrete, assim que tomou conhecimento do seu paradeiro, declarou que pretende prestar-lhe assistência. Espero que ele consiga, pois ainda é cedo.

23.3.12

Chico Total

Hoje o Brasil ficou mais triste. A notícia da morte de Chico Anysio - o artista ímpar que fez do humor o trabalho da sua vida e com seu talento alegrou o povo por longos anos interpretando como ninguém as centenas de personagens que criou - abalou muitos dos seus companheiros de profissão, que o reverenciaram lamentando profundamente.
Vi o Jô Soares e o Renato Aragão sinceramente consternados, o que traduz o imenso vazio deixado no metiê. Também a Cláudia Jimenez e o Lúcio Mauro renderam-lhe belíssimos preitos.
Lá se vai mais um Chico brasileiro para o outro lado da vida, ou será que se foram milhares de Chicos dentro de um único Chico? Professor Raimudo, Tavares, Pantaleão, Painho, Bento Carneiro, Alberto Roberto, Jovem, Salomé de Passo Fundo, são apenas alguns desses Chicos que juntos sucumbiram à luta pela sobrevivência do corpo. O velho Chico cansou e se foi. Todos assistimos a sua luta terminal e os amigos próximos que o acompanharam nessas últimas horas deram testemunho de que o mestre do humor nunca deixou de ter humor próprio. Isso sim é sair vitorioso, apesar da morte, e merecer uma bela acolhida na casa do Senhor.
Por esta razão, hoje o Brasil ficou mais alegre. Já não sofre mais o velho e doente Chico Anysio, já não depende mais de aparelhos e de exaustivos cuidados médicos, já não está mais sob o domínio da dor e do sofrimento. Brilha no panteão dos artistas de todos os tempos e na memória dos familiares, amigos e fãs.



14.2.12

Took the red pill

Resolvi desativar uma conta que tinha no facebook. Me cansei da mesmice dos posts e da viciante frequência com que vinha acessando essa rede social a qualquer hora do dia ou da noite.
No início tive uma certa expectativa em relação à onda de pós-modernidade ali representada afinal houve uma debandada geral do orkut... Então assisti ao filme homônimo e me dei conta de que a american college adventure tinha outro viés. A brincadeira então virou negócio e este prosperou e muito.
Nada contra uma ideia gerar frutos, mas pergunto-me: E eu com isso? O que realmente estou fazendo ali? O fato de 'encontrar' pessoas conhecidas, amigos distantes, gentes do passado, etc me pareceu uma resposta satisfatória, mas mesmo assim questiono-me sobre o por que de as pessoas ficarem se expondo, exibindo fotos e outras informações privadas para um sem número de expectadores conhecidos e desconhecidos, algo que já se podia fazer no próprio orkut!
Parece que todos ali no facebook detém alguma espécie de poder capaz de torná-los especiais e cheios de significado, afinal compõem uma rede na qual os nós são igualmente relevantes para a manutenção da trama em evidência.
Assim, pus de lado meu narcisismo e 'tomei a pílula vermelha'. Resolvi desconectar-me e deixar as coisas ficarem mais claras. Pode ser que reative a conta, pode ser que não. Por hora minha energia vai alimentar outras baterias...




5.2.12

Você acredita em destino?

Quantas vezes em nossas vidas já escutamos esta indagação: Você acredita em destino? Basicamente responde-se sim ou não.
Para ambas as respostas caberia uma justificativa, principalmente para a negativa, pois quando alguém responde sim, entende-se que a pessoa identifica-se com uma crença qualquer que naturalmente deve ser respeitada. Quando porém responde-se não, surge a dúvida: Não por quê? Aí, geralmente, a explicação é: porque crê-se em livre-arbítrio. Tudo bem...
A ideia de livre-arbítrio dá a entender uma espécie de liberdade, a qual confere ao ser a faculdade de escolher entre opções mutuamente excludentes ou não. Assim, quando alguém diz crer no livre-arbítrio, pode-se entender que ela nega o determinismo.
Já o destino remete ao limite final de alguma coisa, p.ex., quando alguém se prepara para uma viagem e estabelece o ponto de chegada, fixa-lhe o destino, em oposição ao ponto de partida, o lugar onde inicia a viagem. Neste caso, pode-se compreender o destino como uma espécie de escolha, de livre-arbítrio. De outra forma, pode-se pensar no destino como consequência de algo fora do controle do ser, p.ex., uma fatalidade - situação para a qual costuma-se dizer tratar-se de 'obra do destino'.
Retomando a indagação, parece mais razoável pensar que o 'destino' considerado é o que representa o imponderável, pois se assim não fosse, seria o mesmo que perguntar se alguém crê naquilo que determinou para si; seria como perguntar ao viajante se ele acredita que vai chegar ao ponto de chegada. Não haveria aí distinção entre destino e livre-arbítrio.
Então, o 'destino' o qual pode-se crer ou não, em elíptica oposição ao livre-arbítrio, vinculado a um propósito transcendente, poderia ser melhor designado, numa acepção temporal, pela predestinação, i.e., uma vontade anterior contra a qual não cabe resistência. Logo, faria mais sentido se a indagação fosse: Você acredita em predestinação?, mas será que alguém a entenderia mais prontamente? Quando se é perguntado, não é mais intuitivo pensar no destino como algo inefável? Que confusão!

1.1.12

???

Parece que caiu o último baluarte... Onze soldados israelenses foram flagrados dançando 'Ai se eu te pego', musiquinha do fenômeno Michel Teló.
Claro que o vídeo foi retirado do ar, por determinação do Exército de Israel, mas ficou a dúvida: se os soldados mais bem treinados do mundo, sob o mais temido rigor que se tem notícia, dançam 'nossa, nossa, assim você me mata', como é que fica heim?