29.3.12

ULC - Ultimate Life Combat

O lutador é tratado como um semideus. As suas primeiras imagens são geradas já no vestiário do grande estádio. Ele se aquece, não sem esquecer da enorme plateia que o aguarda e tudo mais que está em jogo. Ao sinal, dirige-se ao octógono, acompanhado de seu séquito. Transparece autoconfiança, ergue seus braços abertos para o público, sobe no ringue e continua se aquecendo. Muitas fotos para publicidades são disparadas em meio a uma concentração já comprometida.
Com o seu oponente não é diferente. Este, pouco tempo depois, surge no palco repetindo basicamente o mesmo iter. Feitas as glamourosas apresentações, a luta inicia. São três assaltos e que vença o melhor.
É a partir desse instante que a luta se assemelha com a própria existência. O lutador agora só conta consigo. Procura seguir a estratégia traçada para o combate, afim de finalizar o oponente. Não é fácil. Aquela autoconfiança de antes vai sendo minada a cada violento golpe. O sangue espirra e escorre, a mente turva, o ar desaparece, as dores castigam, mas é preciso resistir para não cair.
Quando se ganha o combate, tudo é festa, mesmo sem poder enxergar a glória alcançada devido aos inchaços, mas, quando se perde, além das dores restam a frustração e o sentimento da derrota.
Após a ovação do vencedor seguem os comerciais e a chamada para a próxima luta.

28.3.12

Valeu, Millôr

Millôr Fernandes se foi. É, esta semana a ceifa cortou fundo no relicário das artes brasileiras. Mal o Chico Anysio ascendeu e agora o Millôr... Um menino que ao ser registrado como 'Milton' já começou a fazer troça com a nossa cara, pois a caligrafia do escrivão do cartório fez com que todo mundo entendesse que o rebento chamava-se Millôr!
Seu desenho tosco (viver não é desenhar sem borracha?) e seus haikais são a expressão de um sentimento nacional de contestação e indignação em face das iniquidades de todos os tempos em que viveu. Parabéns, Millôr! Nada menos que a eternidade para recebê-lo de braços abertos.

26.3.12

Negrete no baixo...

Não faz muito tempo, me lembrava do Negrete da Legião Urbana e pensava o quanto ele estava sumido. Para minha surpresa, aliás, total espanto, soube hoje que ele vive nas ruas do Rio de Janeiro, há anos!
Assisti a um vídeo e me comovi com a entrevista que ele, humildemente, deu à TV. O homem envelheceu só e esquecido na Cidade Maravilhosa. Comprou um baixo novo mas não consegue tocá-lo como há vinte anos. Também não tem mais banda. Disse que um dia teve mulher e filhos, mas não tem contato algum com eles. É muito sofrimento. O cara tem um radinho para escutar as FM's da vida. Volta e meia escuta os hits da Legião e, nessas horas, diz sentir-se feliz. Sobre o Renato Russo, Negrete é só elogios...
Companheiros do Rock Brasil dos anos 80 dizem que já tentaram ajudá-lo, sem sucesso, e o pai do Negrete, assim que tomou conhecimento do seu paradeiro, declarou que pretende prestar-lhe assistência. Espero que ele consiga, pois ainda é cedo.