13.5.12

Paraísos Artificiais

Enfim assisti ao filme 'Paraísos Artificiais'. Desde quando vi o seu teaser pela primeira vez até a leitura de algumas críticas, a maioria negativas, fiquei afim de ir ao cinema e, ao final, gostei muito do que vi.
Soube de pessoas que deixaram as salas dos cinemas, antes do fim do filme, completamente enojadas da sua estética. Outras classificaram-no como mais uma produção vazia do cinema brasileiro. 
Da minha parte, achei o filme extremamente bem feito. A linha do tempo e as interrelações  dos personagens, propostas pelo diretor, são altamente complexas, alternando entre as memórias do casal de protagonistas até o seu incidental reencontro, delicadamente não resolvido no final.
Creio que a temática do filme tenha sido a responsável por tanta rejeição do público, afinal, drogas sintéticas, jovens alienados e uma densa trilha sonora eletrônica que embala raves, não representam um contexto muito defensável, do ponto de vista moral. Entretanto é justamente aí que o diretor consegue mostrar-se criativo. Lidar com questões socialmente polêmicas, juridicamente reprováveis, ser sutil e ainda por cima não tomar partido, isto é, não fazer proselitismo, é uma tarefa que requer talento e o cineasta Marcos Prado tem-no de sobra.
Trata-se o enredo de icônica estória sobre a atual geração de jovens. De um lado, a falta de perspectiva, a impulsividade primitiva e delinquente, aliada à sexualidade experimentalista e inconsequente. De outro, a fragilidade e incompletude da família, incompetente no trato dos problemas existenciais de seus membros, em especial os jovens e a criança...
Ainda assim o filme consegue ser lírico, estabelecendo surpreendentes costuras, como a da cena final em que o irmão mais novo, órfão de pai exímio nadador, consegue emergir do mar após fugir da Polícia Federal. Esse folego juvenil, capaz de insuflar nossas esperanças de redenção, surge como um presente regalado no final da festa. Pena que teve gente que não aguentou esperar...